O professor compara o consórcio aos conceitos de teoria dos jogos: a cada período, você tem o carro. Começa o jogo. Se der um lance baixo, não consegue o carro. Se der um lance alto, quanto estimar o valor? “A maioria das pessoas, naturalmente, não tem conhecimento da teoria dos jogos. Elementos probabilísticos e estatísticos para aplicar, para saber se está caro ou não. É uma conta muito difícil para ser feita.”
Entenda o lance
Você pode questionar e dizer que dará um lance para antecipar o carro. Cuidado. Nelio Costa faz uma comparação: no CDC, em um carro de R$ 100 mil, por exemplo, se a pessoa der 60% de entrada e financiar os outros 40%, ela vai pagar juros sobre R$ 40 mil.
Já no consórcio, as taxas cobradas são sobre o valor da carta, que é nesse caso de R$ 100 mil. Só que estas taxas (administrativa, reserva, seguro) são diluídas nos 48 ou 60 meses. Se o consumidor der um lance (seja fixo ou livre), está pagando uma taxa sobre um valor que já possuía (em média, de 40 a 60% do valor da carta).
“Ou seja, enquanto o financiamento tem juros por período sobre um valor contratado, no consórcio paga-se taxas sobre o valor total do bem”, explica Costa.
Mas para que a comparação seja justa, deve-se considerar também a diferença entre os juros e a taxa. “No CDC, os juros são, por exemplo, 3% ao mês sobre o valor contratado, que resultaria em algo como 300% num período de 48 meses, enquanto no consórcio, paga-se de 15 a 20% ao ano de taxas sobre a carta em todo o período”, completa.
O que saber antes de escolher o consórcio
Não há padrão nos consórcios, embora as regras sejam reguladas pelo Banco Central. A forma de reajuste das parcelas pode acompanhar índices de inflação ou tabela Fipe. Ler e entender o contrato é fundamental.
As taxas administrativas variam conforme a instituição. Procure a concorrência e pesquise quanto cada uma cobra. “Além disso, é preciso saber a saúde financeira do grupo, porque, se não utilizar o fundo de reserva, ele será devolvido depois”, indica Nelio Costa.
Outra informação antes de assinar é saber se vai fazer parte de um grupo em andamento ou novo. Quando o grupo já existe, é possível dar lances menores, mas em contrapartida as parcelas podem ser mais altas. Procure ver com a instituição em quanto está um lance livre.
Por que o consórcio funciona para alguns
O consultor da Planejar, Nelio Costa, faz uma comparação para simplificar dois diferentes perfis: um guarda mil reais todo mês; o outro decide pelo consórcio. Com o tempo, percebe que primeiro, por vários meses, gasta o dinheiro que pouparia. Já o que contratou o consórcio, mesmo com dificuldades, sempre dá um jeito de pagar.
“Então, é inegável: o consórcio, atrelado a um bem de valor significativo e sentimental, aumenta a disciplina da pessoa. Esta é então, para mim, uma das principais vantagens do consórcio. É para aquela pessoa que tem um perfil de nunca poupar para ter uma compra mais barata do que o financiamento”, afirma o planejador. Lembrando que ele não está com o bem.
O consórcio também funciona para quem tem um carro e planeja trocá-lo em quatro, cinco ou seis anos. Com o tempo, o carro usado desvaloriza e requer manutenção. Então, se antecipa, participa de um consórcio para no futuro ser sorteado e trocar de carro.
O professor Carlos Campani concorda que fazer consórcio para depois trocar de carro funciona para quem não tem o hábito de guardar dinheiro, de se precaver, de planilhar seus gastos. “O carro vai ficar velho e aí cadê o dinheiro? Não tem. Então, se tem consórcio, pelo menos é uma maneira. Dos males, o menor”, resume.
Pague para entrar e reze para sair
Desistir de um consórcio é uma das maiores desvantagens da modalidade. Como revender é muito difícil, o consumidor certamente vai perder dinheiro. Aí é rezar para ser sorteado. Caso contrário, haverá multa e em alguns casos o consorciado só será reembolsado no fim do plano.
A decisão do consórcio deve levar em conta planejamento e calma, sem agir por impulso. Faça contas, converse com amigos, familiares ou com um especialista, um planejador financeiro. Não se sinta pressionado a assinar nada antes de avaliar bastante. Isso, na verdade, vale para tudo, certo?
Juros não são tudo no financiamento
Ter o carro de imediato, arcar com juros de dois dígitos e, no fim pagar, por dois carros: esse é o preço por querer um financiamento e ter o carro na hora.
O CDC costuma ser a escolha de 50% dos compradores de carros zero-km e que também não deixa de ser uma compra planejada.
No financiamento é preciso checar a CET, ou Custo Efetivo Total. Porque além dos juros, tem o IOF, seguro e outras coisas que geram um custo total maior do que o juro que o banco ou a financeira anuncia. Por lei, é obrigatório ser indicado.
“Então, não olhe somente o juro cobrado pela instituição, mas sim o custo total daquele financiamento. E o juro ao mês precisa ser levado ao ano para comparar com investimentos e até Selic”, explica Carlos Campani. Nele recaem taxa de abertura de crédito, IOF, seguro, etc. Por isso, é indicado pagar o maior valor possível na entrada.
Outra dica é que além dos bancos tradicionais e financeiras, há bancos das próprias montadoras que cobram juros bastante competitivos. Pesquise e negocie.
Comprometimento
O planejamento fica mais fácil para um funcionário público concursado ou privado por CLT. Porém, se a renda varia muito, como a de um autônomo ou empresário, é bom ter uma “gordura”, sugere Nelio Costa, e não comprometer o valor na “carne”.
O valor a ser comprometido por mês é importante, mas Nelio chama a atenção para o prazo. Fazer em 48 ou 60 meses muda bastante a parcela. O valor dos juros com um ano a mais de dívida é muito alto. “Pegue uma simulação de prazos menores e tente ao máximo encaixar na renda e faça o financiamento com o menor prazo possível.
”Quando se fala em parcelas que cabem no bolso – tanto no CDC quanto no consórcio -, fique atento. O quanto se pode comprometer da renda tem relação direta com seu momento de vida. Se é jovem e mora com os pais, por exemplo, pode guardar 40, 50% do que recebe.
Mas normalmente o comprometimento de renda para aquisição de bens é de 10 a 15%, fora mais 10% que se deve guardar para o futuro. “É uma questão de prioridade. Se a pessoa usa 50% da renda para comprar um carro, ela deixa de lado o plano de segurança, liberdade financeira e estudos durante três, quatro anos. Então é uma escolha da pessoa”, pondera Nelio Costa.
5 dicas para pessoa não cair em roubadas
- Se ficar em dúvida entre financiamento ou consórcio, faça o contrário: questione com o consórcio porque a proposta dele é melhor que o CDC e faça o mesmo com quem tenta te vender o financiamento. Com esses argumentos você se informa melhor e reduz riscos;
- Procure fontes isentas. Fuja de especialistas patrocinados por instituições que possam pesar na escolha;
- Visite sites de reclamação de consumidor, Banco Central, consumidor.gov para ver o que falam daquela instituição e produto;
- Enquanto no CDC é fundamental checar e comparar o Custo Total Efetivo (CET), nos consórcios a taxa de administração pode fazer muita diferença no peso das parcelas. Pesquise em várias instituições;
- Não se sinta pressionado por assinar nada. Pesquise concorrentes e condições. Faça contas e leia contratos. Trata-se de um comprometimento de sua renda por longo prazo e a desistência pode virar prejuízo e dor de cabeça.
Consórcio x CDCVantagens do consórcio
- Valor menor das parcelas
- Não requer entrada
- Pode ser uma alternativa para quem tem carro e quer trocá-lo por um novo a médio ou longo prazo
Desvantagens do consórcio
- Não recebe o carro de forma imediata
- Parcelas podem sofrer reajustes periódicos
- Se desistir, recebe apenas parte do que pagou e a devolução pode demorar
Vantagens do financiamento CDC
- Sair da loja com o carro
- Em contratos pré-fixados, as parcelas não têm reajuste
- Os juros são cobrados sobre o valor financiado e não sobre o valor total do carro
Desvantagens do financiamento CDC
- A maioria exige uma entrada
- Juros estão mais altos
- Quanto maior o prazo, maior será o valor final – chega-se a pagar o carro em dobro